sexta-feira, 6 de junho de 2008

A poesia e o mundo moderno

Em minhas aulas sobre a poesia moderna percebo que os alunos têm dificuldade para entender o porquê de estudá-la. Por mais que explique, ainda não fazem a associação necessária entre mundo externo e mundo interno. Vamos ao mundo externo.
A senadora Kátia Abreu (DEM-TO), vice-presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), articula no Congresso derrubar o corte de crédito rural e o embargo à produção de áreas devastadas para quem desmatar a Amazônia ilegalmente. Além disso, a ruralista pretende acabar com o recadastramento obrigatório, mecanismo usado para localizar quem desmata de modo criminoso.
O eu-lírico de Drummond, no poema “O Enterrado Vivo”, em determinada estrofe afirma “Sempre no meu pulo o limite”. Em outro verso do mesmo poema segue na mesma linha: “Sempre no meu amor a noite rompe”. Esta visão desencantada, de desajuste, esta sensação de incompreensão é a conseqüência por não se adaptar aos valores e às condutas consideradas normais por este mundo burguês. Mundo burguês representado pela senadora. Basta ler a entrevista que ela deu ao Jornal do Senado (edição que vai de 2 a 8 de junho, pág. 6). Nesta afirmou encarar como natural e saudável a compra de terras brasileiras por outros países. Segundo palavras da própria parlamentar “É supernatural a perspectiva desse mercado e assim funciona com qualquer produto, acho muito interessante”. Em seguida, ela afirma que o Estado não deve proibir, apenas regular como fazê-lo. Num momento em que o mundo olha para a Amazônia, que se descobre um sueco forjando uma ONG para comprar um pedaço de terra maior que a cidade de São Paulo, saber que há pessoas que defendem interesses de uma determinada classe empresarial contra os interesses nacionais, é realmente desalentador. Não há como o poeta moderno não ter a sua esperança fragmentada, pois diariamente se depara com notícias como esta.
O desajuste do poeta moderno é a causa que o leva ao engajamento de crítica social, à ruptura com o mundo neoliberal. E será a sua voz poética que levará esperança para uns poucos, afinal já afirmou Drummond, em A Flor e a Náusea, poema do livro A Rosa do Povo: “Ao menino de 1918 chamavam anarquista/Porém o meu ódio é o melhor de mim/Com ele me salvo e dou a poucos uma esperança mínima”. O mesmo poeta afirmou a função que pretende dar à sua poesia em Canção Amiga, de Novos Poemas: “Eu preparo uma canção que faça acordar os homens/ e adormecer as crianças”. Espero que os meus alunos entendam que ler a poesia moderna significa ampliar a consciência crítica perante o mundo interno e externo, senão continuaremos a viver num mundo de “homens partidos”.

2 comentários:

Jpj disse...

http://3piratas.blogspot.com

Anônimo disse...

Adorei seu blog, cara!