terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Impotência de Orfeu




Na encosta, na
paisagem de seu
fracasso, Orfeu,

no frio úmido
das águas barrentas,
desolado,

contempla Orfeu
entre a lama:
tudo lhe escapara.

Sua lira jaz
soterrada
no barro molhado.

Não fora capaz
como outrora
de frear as águas.

Seu canto,
não tinha sereias
naquele mar,

fora mudo
para a audição
do deus.

Não podia
a Netuno,
às nereides

a Tritão, pedir.
Não conheciam
aquelas águas.

Qual Psique
sua casa
desaparecera.

Eurídice morrera
possuída
pela saturação

do solo.
Ele não poderia
descer a buscá-la,

nada havia
para entrar.
A lama tomara tudo.

As almas do Hades
estavam à vista
nos corpos

que fugiam de seus
caixões à mostra
como canhões

apontando
insistentemente
para o céu.

Doente, Orfeu
lembrava-se
dos argonautas

e meditava
sobre o velocino
de ouro.

Traria proteção
para aquela gente?
Não.

Seria outro bezerro
outra divindade
de ouro.

Poderia provocar
a fúria do Deus
cristão

e um dilúvio maior,
de quarenta dias.

O solo saturado
continuava a descer
sobre as rochas.

Orfeu, imóvel,
na tempestade, sem tempo
para se defender

sem tempo
para a defesa
civil,

impotente, apenas
aguardava
por Eurídice.

As Musas choraram
mas suas lágrimas
desapareceram

na enchente
no dilúvio
na lama.

Caso alguém o enterre,
por favor,
tire uma foto sua

e do local do enterro
para que o reconheçam
e possam chorá-lo

para terem na lembrança
a imagem dos feitos
de Orfeu.

2 comentários:

Anônimo disse...

vou te dar uma ajuda para dar um 'up' no seu blog. ai uma mão lava outra ;D
me add no msn. aninha.lawliet@hotmail.com

Anônimo disse...

qualquer hora me mande um texto, aí eu posto no meu blog e divulgo o seu.
e apareça no msn! ;]