O homem já chorou uma vez
e viu atendida
a sua prece.
Não havia nele
a culpa
o imperdoável erro.
Suas paixões eram justas
e não justas.
Hoje tomou o bonde
pegou a via
pecou a vida
e diluiu-se
em ressentimentos.
Já não basta a bata
reconhecer-se.
Medo e egoísmo:
o que se vê
quando se vê
no espelho?
O homem já chorou uma vez
e se corrompeu
em caprichos
e desinocências.
Nunca mais, nunca mais...
Guarde na gaveta
e esqueça.
O eco ressoará sempre.
A Esperança
- essa senhora incolor -
não é a tua amiga.
Se vem no encalço
é para, depois, perder-se
por tuas mãos
como areia fina.
O homem não se enquadra:
parques, estradas
entretenimentos
lutas e desconfortos.
A luta foi perdida
e a mágoa é grande:
corda que comprime em volta do corpo
corda que oprime dentro do corpo.
Sem choro
oco
sente-se o nada andar-lhe
sem dor.
Vê seus familiares
e não os entende.
Indecifrável
perdeu a sua história.
Métrica regular
de insônia compassada
convulsões silenciosas
e medo de morrer.
Não, não é apego à vida.
O homem tem um sonho,
este o persegue.
Claustrofóbico
o homem vê-se morto
enterrado
sob a terra preta.
Vê toda a cena em dois planos:
vê as pessoas enterrando-o
falando
lamentando-se
e falando coisas banais
outras histórias
esquecendo-o
sob a terra preta
e vê as pessoas
enterrando-o
e vê a escuridão de seu caixão
e ouve vozes abafadas
pela terra, pelo calor
pelo barulho silencioso
de sua pele
que começa a secar.
O homem sabe que está sozinho
e que nunca mais estará.
Deus o sente.
Seu perdão esvaiu para Uberlândia
como quem se cura
de um câncer, um tumor.
Sem autopiedade
o homem sabe de si.
Sem autoflagelação.
Seu pecado não expiará.
Cabe ao homem aceitar a sua miséria
presa em seu ar corpóreo
rarefeito
e a sua realidade.
Rezar
não para salvar-se.
Deus o vê
e sabe o que se passa em sua alma.
Rezar
para não morrer logo.
Atrasar
o quanto pode
sua claustrofobia.
O homem tomou consciência de si:
"Nunca mais, nunca mais".
Este é o seu eco oco.
Saber-se
e por isso temer a morte
e pensar tanto nela
e senti-la tanto.
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